A doença de Crohn é uma doença inflamatória intestinal, de origem desconhecida, podendo agredir qualquer parte do trato gastrintestinal, responsável por processar alimentos a fim de obter energia e livrar o corpo das sobras sólidas.
Os principais sintomas dessa doença são a febre, dor abdominal mais parecida com uma cólica excessiva, além de diarreia e fadiga, por isso, é muito importante tomar cuidado com alimentação. Além disso, pessoas com doença de Crohn, ou qualquer patologia inflamatória intestinal, possui um maior risco de carências nutricionais por conta das muitas razões ligadas à doença e ao próprio tratamento.
Paciente que tem essa doença, precisa tratar a dieta como uma prioridade, uma vez que alguns alimentos (mesmo os saudáveis) podem agravar os sintomas e até mesmo desencadear uma crise.
Como deve ser a alimentação
O principal objetivo da alimentação nesses pacientes é restaurar e manter sua condição nutricional, e muita das vezes, essa alimentação é reforçada de suplementos alimentares, que podem ser alterados durante as fases da doença.
Seguir uma alimentação balanceada e saudável faz com que as crises sejam controladas, permitindo aos pacientes uma melhor qualidade de vida. Foi pensando nisso que entrevistamos a nutricionista Claudia Patounas, da Clínica Soma, para tirar as dúvidas mais frequentes sobre a alimentação para pessoas com essa patologia.
Por que pessoas com a doença de Crohn possuem maior risco de carências nutricionais?
A Doença de Crohn é uma disfunção inflamatória do trato gastrointestinal que afeta predominantemente a parte inferior do intestino delgado (íleo), onde ocorre a absorção da maior parte dos nutrientes, e intestino grosso (cólon). O grau de má absorção depende de quanto o intestino foi afetado ou se parte dele já foi removido devido à doença.
Por que o estado nutricional é tão importante nessa doença?
Geralmente, pessoas com doença de Crohn apresentam períodos de sintomas gastrointestinais intensos, como diarreia, vômitos, náuseas, dor abdominal, alterações no paladar, prisão de ventre e perda de apetite, que podem resultar em desnutrição.
Quais os melhores alimentos a se consumir?
Devemos deixar claro que o paciente deve ser avaliado individualmente, para saber a conduta dietoterápica para a condição atual. Muitas vezes pode estar no meio de uma crise e, por isso, tem que ter o acompanhamento médico e nutricional individualizado.
Abaixo segue alguns alimentos permitidos:
arroz parbolizado, tapioca, purês, macarrão;
carnes magras – ovo, frango, peixe (salmão, atum), carne bovina sem gordura aparente ou pele;
legumes cozidos, como cenoura, batata, aipim, abóbora, dentre outros;
frutas cozidas e sem casca, como banana, abacate, pêra e maçã;
produtos lácteos, desde que a pessoa não seja intolerante à lactose;
abacate e azeite de oliva;
leguminosas somente o caldo (feijão, lentilha, ervilha e grão-de-bico);
bebidas: água, água de coco e chás claros e temperos: sal, temperos naturais (cebolinha, salsinha) e vinagre (sem excesso).
Quais alimentos devem ser evitados?
Os alimentos que devem ser evitados porque podem irritar o trato gastrointestinal e agravar os sintomas são:
café, chá preto, refrigerantes com cafeína;
sementes;
verduras cruas e frutas com casca;
mamão, laranja e ameixa;
mel, açúcar, sorbitol ou manitol;
frutos secos, como amendoim, nozes e amêndoas;
aveia;
chocolate;
bebidas alcoólicas;
carne de porco e outras carnes gordurosas;
biscoitos amanteigados, doces com massa folhada, chocolate;
frituras, gratinados, maionese, refeições congeladas industrializadas, manteigas e
creme de leite.
Estes alimentos são apenas alguns exemplos que, na maioria das pessoas com doença de Crohn, podem piorar os sintomas da doença, no entanto, os alimentos podem variar de uma pessoa para outra.
Sabemos que uma boa alimentação é essencial, mas no caso da doença de Crohn, qual a sua maior importância?
A alimentação equilibrada é fundamental para a saúde em geral, e na Doença de Crohn ela se torna ainda mais importante, visto a depleção aumentada de nutrientes.
Para amenizar os efeitos da doença, deve-se sempre buscar uma alimentação variada com boa qualidade proteica, tendo equilíbrio entre os carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais.
O que deve ser feito junto a alimentação?
A atividade física regular é muito importante, ajudando a prevenir a osteoporose, manter a massa muscular, além de estimular o apetite. Para a saúde mental psicoterapia, grupos de suporte, meditação e yoga podem ser de grande valia. Além da alimentação balanceada, deve-se fazer o uso correto dos medicamentos prescritos pelos médicos.
Quais as vitaminas mais necessárias para um paciente com doença de Crohn?
Cálcio, ferro, zinco, manganês, cobre, selênio, vitaminas D, B9 e B12, além de ômega 3, glutamina e probióticos conforme necessidade e avaliação médica ou nutricional.
A alimentação ajuda com alguns dos sintomas?
Sim, ajuda conforme dito acima. É importante consultar o nutricionista regularmente, já que pode ser necessário realizar algumas mudanças na dieta para evitar má-nutrição e aliviar os sintomas da doença.
Dicas nutricionais
É muito importante frisar a importância dos cuidados com a alimentação para os portadores dessa doença. Sabe-se que cada caso é um caso, e o paciente deve estar sempre em contato com seu médico e nutricionista para saber o que melhor funciona para seu organismo.
Contudo, existem algumas dicas nutricionais gerais, ou seja, que podem ser levadas para todos os casos, como:
fazer pequenas refeições, várias vezes ao dia;
beber pequenas quantidades de água ou água de coco frequentemente ao longo do dia;
se estiver com diarreia, evitar alimentos ricos em fibras. Cereais, massa e pães
integrais, leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, grão-de-bico) podem piorar o inchaço e dor abdominal. Estes alimentos podem ser bem tolerados fora das crises;
evitar nozes, sementes e pipoca, pois podem ser difíceis de digerir, causando maior irritação intestinal;
cozinhar frutas e vegetais para facilitar a digestão;
evitar alimentos gordurosos e frituras, pois podem piorar os sintomas;
evitar pimentas e outros alimentos picantes;
limitar o consumo de produtos lácteos, se tiver dificuldade em digerir a lactose, o açúcar encontrado no leite;
limitar a ingestão de cafeína, pois agrava as crises;
evitar as bebidas alcoólicas e as com gases, como refrigerantes;
dar preferência a alimentos leves e macios;
reduzir o consumo de FODMAPs, durante as crises;
incluir proteína suficiente na dieta.
Todas essas dicas, são cuidados necessários para que uma vida normal seja possível. Infelizmente, a doença de Crohn não tem cura, no entanto, é possível entendê-la e (com ajuda médica), iniciar um tratamento individualizado, geralmente à base de medicações anti-inflamatórias, esteroides e imunossupressores.
Recebeu diagnóstico de Doença de Crohn? Então converse com o seu médico para descobrir qual o melhor tratamento para o seu caso. Lembre-se que os tratamentos são individualizados e que o uso de imunobiológicos deve ser feito com uma equipe qualificada.